terça-feira, janeiro 25, 2005

O meu fim-de-semana, Parte II

01:45

Depois da bela tarde passada nos jardins das Caldas da Rainha, rumámos para Torres Vedras o nosso destino final do dia de Sábado.
Depois de um passeio muito rápido (porque o frio polar já se vazia sentir no Sábado à noite) pelas ruas do centro da cidade, fomos jantar no restaurante "O Gordo". Um espaço sem nenhuma referência digna de nota além do serviço rápido e de um atendimento muito eficiente, sem grandes simpatias, mas de qualidade. Salienta-se a excelente relação qualidade-preço!!!
Após um bom repasto muito bem regado, fomos descobrir onde era o cine-teatro de Torres... nesta altura ainda não sabíamos que estávamos muito perto.
O objectivo final deste Sábado era assistir no cine-teatro de Torres Vedras a um espectáculo baseado na obra de Agostinho da Silva, com o título "Imprevisível da Silva".



Este projecto, concebido pelo compositor Nuno Corte-Real e o escritor Rui Matoso, surge na sequência de uma colaboração estabelecida entre ambos. Segundo Rui Matoso, ?Imprevisível da Silva não é sobre Agostinho da Silva, porém é inegável que seja a partir de?, não tem, por isso, uma estrutura obediente à vida e à obra do professor; mas sobrevoa-as, para aí criar um plano de imanência essencialmente musical. A ideia central em torno da qual se constrói esta peça surge da noção de imprevisível e dos desdobramentos conceptuais inspirados directamente na sua múltipla prosa e poesia?.
Tal como o nome indica, este é um espectáculo essencialmente musical, interpretado também ao nível do texto recitado e não apenas do texto cantável. Quanto aos recursos musicais, o suporte é dado pelo Grupo Darcos.
Num palco negro apenas com uma tela branca em fundo eram projectados trabalhos de pintura e desenho de muito bom gosto, enquanto os " Darcos" brincavam com o actor Jorge Sequerra ao sabor de poemas produzidos a partir da obra de Agostinho da Silva.
Inicialmente podemos pensar que este seria um espectáculo baseado na estrutura filosófica complicada e de difícil compreensão por que A. da Silva ficou mais conhecido, mas a interpretação e a componente musical ajudam o espectador a inserir-se na dinâmica dos textos. Eu próprio fiquei um pouco desconfiado... Agostinho da Silva... ah?! Unh!? mas como dizia a Alcina Lameiras "Não negue à partida uma ciência que desconhece"... e por isso lá fui assistir a um espectáculo de qualidade.
Além de ter ficado interessado em conhecer a obra de A. da Silva, tive a oportunidade de ouvir um poema que me ficou no ouvido e que passou a fazer parte da minha galeria de textos:

Por exemplo.
Um ilha nunca se fixa
mesmo quando parece imóvel
o seu movimento é imperceptível.
Um ilha quando estanca
esvazia o eflúvio de lava nascente
e move-se em mar incerto
abrindo-se imponderável ao mareante.
Um ilha jamais se descobre
quando o essencial na viagem
é a vontade anónima das ventanias,
o encontro não previsto no horizonte
sob o inesperado ritmo dos dias.
Um ilha não aparece como um destino desejado,
mas em desmedidos começares:
onde viagens sejam somente as travessias.

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