"O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os carácteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte: o país está perdido!"Pasme-se que este texto é tão velhinho e tão actual! Há 133 anos, deram-se as Conferências do Casino, hoje joga-se no casino, dantes passeava-se no Passeio Público, hoje vai-se ao Colombo. Antigamente, ia-se à Ópera no S. Carlos, hoje o S. Carlos vai à Ópera. O poder em finais de oitocentos oscilava entre os Liberais e os Conservadores, hoje entre o PS e o PSD. Nada mudou, oh meu dEus, nada mudou...
Eça de Queiroz, in As Farpas, 1872
sexta-feira, fevereiro 04, 2005
Portugal, oitocentos.
10:30
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