É outono, desprende-te de mim.
Solta-me os cabelos, potros indomáveis
sem nenhuma melancolia,
sem encontros marcados,
sem cartas a responder.
Deixa-me o braço direito,
o mais ardente dos meus braços,
o mais azul,
o mais feito para voar.
Devolve-me o rosto de um verão
sem a febre de tantos lábios.
Sem nenhum rumor de lágrimas
nas pálpebras acesas.
Deixa-me só, vegetal e só,
correndo como um rio de folhas
para a noite onde a mais bela aventura
se escreve exactamente sem nenhuma letra.
(Eugénio de Andrade in “As palavras Interditas", 1951)
quinta-feira, agosto 30, 2007
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5 comentários:
O Eugénio de Andrade diz-se a si mesmo, "diz-se" porque é mais um eterno. Mas há necessidade de antecipares o que ainda não chegou? Ficamos tanto tempo à espera do Verão e já andas a pansar no Outono? Ou é a tua veia nostálgica que veio ao de cima com os tons dourados do regresso às aulas dos hipermercados? Beijos, Brunito, eu afinal também gosto muito do Outono.
Acho que é a minha veia nostálgica. ;-)
Meu caro Bruno
não poderás imaginar o que senti ao ler, de novo, este poema de Eugénio de Andrade...
Foi com este poema, enviado por carta (os mails ainda não existiam), que a pessoa com quem tive a minha primeira ligação, rompeu essa mesma ligação, daí, eu sentir cada palavra como uma lâmina rasgando-me, pese embora, com o tempo passado, tenha que reconhecer que é um poema muito belo.
Hoje somos amigos e ainda agora recordamos este poema!
Abraço aos dois.
Boa noite pinguim,
A poesia de Eugénio de Andrade de uma forma geral e este poema em particular possuem uma força que serve para todos os grandes momentos que definem as nossas vidas.
Abraços,
fix!
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