Diz que é uma espécie de concurso, tal como Maria Elisa é uma espécie de apresentadora. Um ícone dos fundos da memória da RTP, a mesmíssima televisão que se despedia em outros tempos com um até amanhã se Deus quiser.
Deus quis, e a RTP - já não portuguesa, mas de Portugal - atingiu a maturidade e com os seus respeitosos 50 anos teve uma ideia. Espera lá... - pensou - e que tal se eu pegasse numa ideia já testada com sucesso noutros países e fizesse assim como que uma espécie de concurso, tipo programa de televisão e pôr os portugueses a pensarem sobre quem foi o maior dos seus homens? Xiii... pôr os portugueses a pensarem. Vai ser difícil, mas aí está a originalidade da coisa. Olha que rica ideia!
E assim foi. Copiou o conceito, gastou dinheiro dos contribuintes, fez filmes promocionais, encheu as cidades de mupis, apresentou convidados das mais diversas áreas do saber e foi buscar ao baú da História os nossos egrégios avós, os nossos heróis do mar, os nossos poetas para que o nosso nobre povo pudesse dizer: "Aqui está o nosso grande timoneiro! Eis o homem que reflecte o que somos e o que queremos. Às armas, que já elegemos o maior português de Portugal!"
Surgiram muitos nomes, caíram muitos outros, até restarem apenas dez, esse número redondo e mágico. Os dez obreiros da nação: Dois reis, dois políticos, dois poetas, dois estadistas, um navegador e um diplomata.
Ao custo de €0.60 + IVA (recorde-se que é de 21% graças a um outro grande português com nome de filósofo grego, que também pretende ser recordado como o salvador da pátria num futuro não muito longíquo) o povo - os que votam em concursos televisivos - votou, e muito!
Depois de 30 anos de uma revolução feita de flores, quase de brincadeira, o povo serenou e esqueceu-se dos comos e dos porquês. Hoje, a figura reencarna e ri-se de todos nós e discursa de novo com a mesmíssima voz aflautada. E assim se perpetua o atraso mental do português. O panorama é deveras assustador sabendo que do primeiro classificado para o segundo nesta espécie de plebiscito vai uma diferença de 22.000 votos e que, concerteza, irá ganhar.
Ai futuro nevoento, tão denso que nem o próprio D. Sebastião se atreverá a sair das areias do deserto de Marrocos para apanhar o primeiro barco de Ceuta para o Allgarve fazendo cumprir, finalmente, a profecia. Ai o meu país hipotético do futuro, governado por um novo ditadorzinho, que pela mão de um partido com as suas iniciais chegará ao poder pela mão do povo inculto e saudoso. Ai fado, ser português em Portugal.
Ó Aristides, perdoa-lhes porque eles não sabem o que fazem.
Deus quis, e a RTP - já não portuguesa, mas de Portugal - atingiu a maturidade e com os seus respeitosos 50 anos teve uma ideia. Espera lá... - pensou - e que tal se eu pegasse numa ideia já testada com sucesso noutros países e fizesse assim como que uma espécie de concurso, tipo programa de televisão e pôr os portugueses a pensarem sobre quem foi o maior dos seus homens? Xiii... pôr os portugueses a pensarem. Vai ser difícil, mas aí está a originalidade da coisa. Olha que rica ideia!
E assim foi. Copiou o conceito, gastou dinheiro dos contribuintes, fez filmes promocionais, encheu as cidades de mupis, apresentou convidados das mais diversas áreas do saber e foi buscar ao baú da História os nossos egrégios avós, os nossos heróis do mar, os nossos poetas para que o nosso nobre povo pudesse dizer: "Aqui está o nosso grande timoneiro! Eis o homem que reflecte o que somos e o que queremos. Às armas, que já elegemos o maior português de Portugal!"
Surgiram muitos nomes, caíram muitos outros, até restarem apenas dez, esse número redondo e mágico. Os dez obreiros da nação: Dois reis, dois políticos, dois poetas, dois estadistas, um navegador e um diplomata.
Ao custo de €0.60 + IVA (recorde-se que é de 21% graças a um outro grande português com nome de filósofo grego, que também pretende ser recordado como o salvador da pátria num futuro não muito longíquo) o povo - os que votam em concursos televisivos - votou, e muito!
Depois de 30 anos de uma revolução feita de flores, quase de brincadeira, o povo serenou e esqueceu-se dos comos e dos porquês. Hoje, a figura reencarna e ri-se de todos nós e discursa de novo com a mesmíssima voz aflautada. E assim se perpetua o atraso mental do português. O panorama é deveras assustador sabendo que do primeiro classificado para o segundo nesta espécie de plebiscito vai uma diferença de 22.000 votos e que, concerteza, irá ganhar.
Ai futuro nevoento, tão denso que nem o próprio D. Sebastião se atreverá a sair das areias do deserto de Marrocos para apanhar o primeiro barco de Ceuta para o Allgarve fazendo cumprir, finalmente, a profecia. Ai o meu país hipotético do futuro, governado por um novo ditadorzinho, que pela mão de um partido com as suas iniciais chegará ao poder pela mão do povo inculto e saudoso. Ai fado, ser português em Portugal.Ó Aristides, perdoa-lhes porque eles não sabem o que fazem.
Written by Miguel
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4 comentários:
Tens toda a razão, e é muito triste. Fiz há dias um post sobre este assunto.
eu n votaria no aristides; talvez em camões, pessoa, afonso henriques, marquês de pombal... mas estas coisas não são para ser levadas a sério. eu nem, vi, e segundo me parece 150 000 ou 200 000 votos (foi isso n foi) n representam o que os portugueses pensam. ou representa?
Eu acho que representa. Mesmo sendo uma minoria. O perigo reside nisso mesmo, saber que 150 000 ou 200 000 pessoas votaram em Salazar é muito fascista que por aí anda à solta. Bem vistas as coisas é 1 ou 2% da população. Diríamos o mesmo se estivéssemos a falar de direitos GLBT e só fôssemos 1% - que eu duvido - da população? Talvez não. Mas sim eskimo, como eu disse neste post, isto é apenas um programa de tv, mas não deixo de ficar preocupado com estas ilusões passadistas e perigosas.
eu discordo miguel, segundo parece houve grupos que se organizaram para votar. se houve 150 000 votos no total e 40% votaram em salazar, são 60 000 votos. é pouco mais de 0,5%, isto se n contarmos com os emigrantes que são para todos os efeitos considerados portugueses. é preciso lembrar que cada pessoa pode ter votado muitas vezes e portanto reduz ainda mais a percentagem.
temos que desvalorizar aquilo.
para mim, havia 8 candidatos e o afonso henriques ganhou. e acho disparatado que alguem diga que 40% dos portugueses consideram o salazar um grande portugues.
experimenta organizar uma votação no teu blogue e depois diz-me se o salazr ganhou outra vez...
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