
O teatro português está de boa saúde e recomenda-se!
É assim que muitos especialistas do teatro nacional (e não só o do D. Maria II ) caracterizam o estado do teatro português!
Devo confessar que ultimamente não tenho ido ao teatro... mas tenho-me mantido atento às estreias, aos temas e aos actores. De qualquer forma hoje queria falar um pouco sobre uma peça de teatro que terminei de ler ontem.
O nome da peça é "Príncipe Bão: peça em 2 actos, o 1º dividido em 10 cenas e o 2º em 11" e o autor é Fernando Augusto. A primeira vez que vi o nome do autor confesso que não me disse nada, e só quando vi a fotografia se fez luz; além de ser um autor amplamente galardoado, fez também algumas aparições na televisão, sendo daqui que o seu rosto se tornou mais familiar.
A esta peça foi atribuído em 1995 o Prémio Baltazar Dias, pela Câmara Municipal do Funchal. Mas vamos à história...
Os dois actos dividem a peça numa sequência dialéctica entre um antes e um depois, ou seja, o estado do reino de Portugal, de Lisboa e da corte antes e depois da Batalha de Alcácer Quibir. Como já devem ter adivinhado o Príncipe de que se fala é D. Sebastião... ou como é tratado na peça, Bão, na intimidade.
Para além de uma excelente qualidade cénica, o mais impressionante é o que aparentemente seriam excessivas recomendações técnicas e de encenação, depressa passam a constituir uma óptima ajuda para o leitor/espectador reconstituir ambientes e sensações que às vezes não existe cenário que valha.
A história explora de forma muito saborosa as opiniões e a vida na corte de D. Sebastião: começa com o seu nascimento e termina com a sua morte (mas não em Alcácer Quibir - quem quiser saber mais terá de ler o livro!), pelo meio ficam vários episódios que oscilam entre o cómico e o dramático.
Como não podia deixar de acontecer em qualquer texto que explore a personagem de D. Sebastião é também abordada a sua pertença vertente homossexual. São tomados todos os cuidados para não se cair no ridículo e no lugar comum, optando-se pelo lado mais realista de um relacionamento entre dois jovens no Portugal religioso e obscuro de meados do séc. XVI.
A não perder os diálogos entre D. Sebastião e o seu "namigo" (namorado+amigo) Luis da Silva: de um realismo e actualidade arrepiantes, como aliás toda a situação política nacional da época e de agora. Acima de tudo é uma reconstituição sentimental da vida de um jovem que está à frente de um reino totalmente racional.
A misturar todos estes ingredientes estão boas doses de suspense, comédia, drama e tragédia.
A comprovação de que o teatro e a História portuguesa estão cheia de bons enredos, personagens, obras e autores que nos permitiriam competir com "Gladiador", "O Ultimo Samurai" ou "Amistad"... Afinal para quê estar a ver versões em 2ª mão de histórias que foram protagonizadas por nós: Viriato e vários Lusitanos na luta contra os romanos, a chegada dos portugueses ao Japão ou o comércio negreiro.
Como diria Camões havemos de conseguir mostrar quem somos/fomos "se tanto nos ajudar engenho e arte..."
Quem tiver ficado suficientemente interessado em ler a peça...
AUGUSTO, Fernando - "Príncipe Bão". Lisboa: Sociedade Portuguesa de Autores: Pub. Dom Quixote, 1997.
Emfim... De gustibus et coloribus non disputandum.
Amanhã, véspera de sexta-feira, será dia de mais umas linhas sobre livros.
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