quarta-feira, junho 09, 2004

Andanças...

17:26

Muitos anos antes de alguma vez pensar que alguém como o BD pudesse existir, andava eu pelo IRC, quando conheci um rapazinho muito simpático. Falámos durante dias até que chegou aquele momento em que aquilo ou morria, ou nos conhecíamos IRL (in real life). E lá fui eu destemidamente conhecer o João. O João era um homem bonito, não muito alto, nem gordo nem magro, de olhos azuis (apesar de eu preferir os verdes e os castanhos), tinha um ar composto, masculino e uma voz bonita. Fomos tomar um café ao Monumental e falámos bastante das nossas vidas como quase sempre acontece quando se estabelece uma empatia entre duas pessoas que já se conhecem, mesmo que virtualmente...
A seguir a esse encontro que correu bem, telefonei-lhe a convidá-lo para um cinema. Sabia que ele queria ver um certo filme, que já não me lembro qual é, e ele aceitou... Fomos ver o filme ao final da tarde, e quando estava já preparado para as minhas despedidas, vi que ele ficou um bom bocado a tentar dizer qualquer coisa. Estava a ganhar coragem para me convidar a jantar a casa dele.
Era uma casa bem modesta nas Olaias, os pais já reformados tinham ido para a sua Santa Terrinha e a casa tinha ficado por conta dele. Ele tinha pavor que os vizinhos soubessem que ele "metia" alguém lá em casa porque imediatamente contariam aos pais, por isso lá entrei meio à sucapa. Preparou um jantar muito bem disposto, mostrou-me a casa, mostrou-me os arranjos que tinha feito com as suas próprias mãos com algum orgulho. Vi nele um rapaz simples, modesto, mas pareceu-me um bom rapaz...
Continuámos a conversar por horas até que começou a fazer-se tarde. Mais uma vez, a algum custo convidou-me para ficar lá a dormir com ele. Nessa altura eu estava "solteiro" e sem qualquer compromisso por isso resolvi aceitar, tendo deixado logo claro nessa altura que não estava interessado em meter-me logo na cama com ele. Pelo menos, não naquele dia...

Quando o sono apertou é que me dei conta de onde iria dormir. Nada mais do que numa cama minúscula de solteiro... com ele! Mas não me importei, afinal dormir com alguém pode ser um acto muito querido e carinhoso. Direi mesmo que mesmo sem sexo, pode ser emocionalmente uma coisa importante. Por isso não me importei e aceitei dormir com ele. Já tinha deixado claro que não queria sexo e aparentemente ele tinha concordado.

Quando me deitei era óbvio que tínhamos de estar muito próximos para nenhum de nós cair da cama, mas não me importei com isso. Abracei-o e tentei adormecer. Reparei que o João estava um pouco impaciente, quando se vira para mim de pau feito e diz que tem ali preservativos. Ao qual lhe respondi que não queria fazer sexo com ele naquela noite. Preferia conhecê-lo um pouco melhor. Disse-lhe que ele me atraía, mas que para mim aquela não era a melhor altura para alguma coisa acontecer entre nós. Dei-lhe um beijo e disse-lhe: "Vamos dormir". Ele resmungou qualquer coisa, virou-se de novo e deixou-me voltar a abraçá-lo. Adormecemos. Na manhã seguinte ele estava de trombas e despediu-se de uma forma rude.

Voltei a estar com ele no final desse dia. Fui lá ter a casa depois de jantar para conversarmos e quem sabe, voltarmos a estar juntos. Ele recebe-me com duas pedras na mão, até que eu perguntei-lhe directamente o que é que se tinha passado e se tinha ficado chateado por não termos feito sexo. Ele não admitiu nada, mas agrediu-me verbalmente o mais que pôde. E eu sem saber o que lhe responder, parecia que tinha um louco à minha frente, completamente alterado. Tentei chamá-lo à razão e a dizer que o facto de eu não ter querido fazer amor na noite anterior foi porque queria começar alguma coisa com calma. Tinha todo o tempo do mundo e ele também e que o que tivesse que acontecer, aconteceria naturalmente, com a vontade dos DOIS. Ele não quis ouvir as minhas razões, continuou a disparatar até que me disse "Tu no fundo és heterossexual, só andas aqui a brincar com os sentimentos dos outros. Tu no fundo gostas é de gajas!". Fiquei em estado de choque. Eu que tempos antes tinha escancarado as portas do meu armário para nunca mais lá voltar, ouvir aquilo foi como se tivessem disparado milhares de agulhas contra mim ao mesmo tempo. Ainda por cima, depois de lhe ter contado quase toda a minha vida, onde é que ele tinha ido buscar a ideia que eu era hetero, ou até bi??? Quando lhe disse claramente que sempre tinha gostado de homens? Senti-me ofendido e magoado. A conversa não tinha volta a dar. Ele não ouvia nada do que lhe dizia. Nem fiquei lá meia-hora. Peguei no meu casaco e vim embora, não sem antes lhe dizer para pensar bem no que tinha dito e feito e que poderíamos voltar a falar quando e onde ele quisesse.

Fui para casa confuso.
Afinal aquele rapaz, passou dias a falar comigo, esperou dias para estar comigo, recebeu de mim carinho, o conforto do meu corpo quando dormimos juntos. E não soube esperar por outra altura. Incongruências de alguém que se queixava de que todos os homens que tinham passado pela vida dele só o tinham usado e abusado dele.

Se ele pretendia fazer o mesmo comigo, levou um balde de água fria. Provavelmente foi isso que tanto o chateou. Mas ainda hoje me lembro das suas palavras amargas, como algo que também não correu bem para mim.

Onde quer que estejas João, espero que a tua vida te tenha corrido bem e que não tenhas voltado a fazer isso a mais ninguém

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